quinta-feira, 1 de maio de 2014

Sobre estupro, pesquisas e poder...

Muito se falou de pesquisa e de suas implicações na cultura e no comportamento real e virtual das pessoas no último mês, depois da malfalada, desastrada pesquisa sobre a percepção dos brasileiros sobre a violência contra mulher, prefiro chamar assim.
Sendo prática, para que serviu esta pesquisa mesmo?
colocar mais mulheres nas redes e nas ruas dizendo não ao merecimento da violência, recolocar o debate da criminalização das vitimas do estupro, de uma forma horrível, mas colocou.
Depois de tudo que ouvi, ficou só uma certeza, nós temos de aprofundar a discussão, precisamos pensar mais, e é só isso que faço aqui.

Quem quiser pensar comigo fica convidada/o, mas se quiser falar merda, vai lá no blog do cara que diz que acha engraçado.

Pontuando o óbvio: o estupro tem várias faces horríveis, sempre guiadas pelo poder, a dominação.

1) do marido/dono que quer reafirmar sua posse sobre o corpo/mente/dignidade da esposa/mulher.

2) do homem, personificação da hetero normatividade que quer corrigir/dominar/punir a mulher livre/lésbica/que almeja ser livre/sexual/homem, o chamado estupro corretivo.

3) do pai/irmão/avô/parente que resolve usar/dominar/tomar a virgindade (tão valorizada pelo patriarcado) da menina/mulher antes que outro homem a tome dele, tentando retirar assim ainda na infância a sua liberdade.

4) do homem que escolhe sua vitima/mulher como uma presa/caça/animal seja ela conhecida ou desconhecida, numa clara atitude de controle autorizado socialmente sobre as fêmeas que ousam rejeitar seus dotes animalescos, pelo menos este é o discurso.

5) do homem que estupra a prostituta porque ele comprou, pagou e é dele, para usar do jeito que bem quiser, independente de qualquer contrato.

Estupro é a face mais clara da misoginia, ódio ás mulheres, e assim deve ser revelada!

Nesta hora torno a me questionar: e o que mais? o que caminha junto destas relações de poder e ódio que precisam ser reveladas? o que precisamos fazer para que possamos criar politicas públicas protetivas para todas as mulheres? como fazemos para constranger, criminalizar, julgar, condenar e prender estes agressores.

O que eu quero realmente saber das pesquisas: 
quero saber o que uma pesquisa de opinião não vai revelar, quero saber mesmo é:
quantas de nós mulheres conseguimos nos libertar da culpa? da autocriminalização? da vergonha? do medo? do estigma da violência? das marcas do ser vitima?

Quero saber como implantar politicas publicas de apoio, promoção e tratamento para as mulheres assediadas e estupradas? como trazê-las aos Centros de Acolhimento e Atendimento ás Mulheres? 
Quero saer do Judiciário e dos legisladores, cadê a criminalização destes agressores? ou só vale a lei qnd os operadores do direito caracterizam a violência doméstica? A lei Maria da Penha tem mais e para além da violência doméstica, tirem os óculos do patriarcado e façam seu trabalho de aplicar a lei, mas até isso fica difícil, quando ainda acham que agressores são só os maridos.

E nós, o que estamos fazendo por nós mesmas? quantas ainda esperam que a vizinha, amiga, mãe e irmã crie coragem, faça valer seu direito sozinha? o que eu quero mesmo saber é quantas de nós MULHERES e feministas já demos colo/apoio e respeito a uma amiga, conhecida ou desconhecida que foi assediada/abusada por um homem? quantas de nós gritamos na rua juntas por respeito, qnd fomos molestadas com palavras e gestos em público? e ajudaram a constranger este agressor, a chamar a policia (o fiscal no trem?), para ajudar outras mulheres e nos defendermos juntas!

O que eu quero mesmo é saber o que faz com que eu, vocês, nós olhemos para uma outra mulher com solidariedade/respeito/sororidade e sintamos a sua dor, como faz para perceber que estamos juntas com as mesmas algemas patriarcais?


Aí lembro de uma de nossas mestras que diz:




Que eu possa ouvir os barulhos de nossas correntes, é a música que mais anseio ouvir!

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